Coimbra é lentamente como o tempo onde a história torna escrever, o regresso abriu-se-me munido de nevoeiro fresco à saída do comboio de velocidade e um olá saudoso encheu-me de ternura. Sabe bem voltar ao lugar passado dois anos, e certas coisas mudaram para melhor na estação Coimbra-B onde a passagem de nível para peões foi alterada segundo os parâmetros de segurança - foi quando estava prestes a atravessar a linha para a saída exterior da estação rumo à paragem dos Táxis, ouvi o ímpeto dos sinais sonoros estridentes de aviso, tão mas tão altos que dei um pulo para trás de susto mesmo entreolhando em ambos os lados, não via vivalma férrea nenhuma!
Avisos luminosos piscando, na verdade nem tinha
reparado antes o sinal encarnado gigante e arredondado onde no meio jazia uma
frase: “Pare, Escute e Olhe” os sons envolvem-me mais que nunca no contexto dos
meus sentidos.
Nesta
altura o sol abrasava escondido por aquela neblina enganosa, reparei nas horas
e a consulta começava a apertar, restava-me porém quarto de hora, lá me enviei
num Táxi a caminho…
Abeirei
diante do edifício de audiologia, pus-me na fila entregando a carta da consulta
e exames para realizar respectivamente, e encaminho para a sala de
espera, logo ali impávida deparo-me o A. com a sua mãe! Pensei “Mas… o que ele está a fazer
aqui?!.... Não me digas, decidiu de vez depois de muita ponderação seguir em
frente ao fim de muitos anos?!”
È verdade resolveu querer mudar a sua vida, e
dar uma oportunidade a si mesmo querer ouvir melhor, portanto, sim quer fazer o
Implante Coclear. Trocámos umas palavras rápidas, o seu nome tinha sido chamado
enquanto eu aguardava pela minha consulta…
Até
lá, peguei numa revista e pus-me a ler mesmo quando o altifalante ecoava três
beeps antes de referir o nome do paciente, sentada na mais pura da
tranquilidade a recompor o espírito da viagem, e do acordar madrugador escutei
em sobressalto o meu nome sem ajuda de ninguém, a minha incerteza foi se era
para encaminhar nas consultas externas ou no primeiro piso das programações.
Vacilante, decidi subir ao fim de uns minutos e afinal de contas a chamada era
proveniente do 1º piso, e lá cumprimentei o Dr. L.S e segundos depois o Técnico
J.H com um aperto de mão e umas palavras pelo meio, foi então quando retirei o processador
e tirei de lá a fita-cola enrolada na BTE antes de lhe entregar para conexar ao
cabo principal do computador onde se faz a programação, digamos assim, afinar o
piano! - o olhar do J.H denotou preocupação mas infelizmente não há nada a
fazer, pois o problema em questão está no processador principal e não na BTE
das pilhas. Com fita-cola-resistente funciona maravilhosamente.
Já tenho umas
ideias fantásticas de forma segurar o funcionamento por mais anos até decidir
inovar por um novo upgrade, que espero ser também à prova de água! GO Cochlear
da família Nucleus!
O
tema dos apitos foram à rés-do-chão, baixinhos muito baixinhos e ainda mais
baixíssimos… pareciam ecos amiudados mas estive imparável no reajuste inteiro,
foi rapidinho coisa que não costumava ser.
De
seguida fui encaminhada a realizar uns testes que nunca fiz anteriormente, pelo
menos dois deles, que consistia em perceber uma palavra no meio dos intensos
ruídos e o que me saiu? Uma grande bela negativa! Sem stress, impossível entender
ou discriminar pois equivale estar numa pista de corridas com os motores a
rugir furiosamente o tempo todo e um amigo fala fala fala mas ficas na mesma
naquela do “ah?! Não te estou a perceber nada! Está muito barulhento!”…
portanto simplificando todos os implantados chumbam neste teste.
O
segundo teste, serviu-se para contar os intervalos silenciosos dentro do
barulho/ruído prolongado numa escala de 0 a 5. Foi preciso estar bastante
concentrada e fazer a contagem.
Por
último, a discriminação de palavras através das colunas, sinceramente esperava
melhor, mas a voz era grave tão grave que palavra sim e palavra não, pareciam
competir lado a lado. Situação contrariada na reabilitação auditiva, através da
Terapeuta H. durante os testes que apenas durou menos de 20 minutos com os
resultados que me puseram sorrir, tenho trabalho de casa em continuar exercitar
o cérebro.
É meta suficiente para apostar em áudio-livros, se tenho enorme
prazer em ler então ouvir acompanhando a história irá preencher os meus tempos
livres em formato mp3, isto quer dizer, agradavelmente com o uso do Neck Loop
no baú de acessórios essenciais tenho as ferramentas completas para seguir em
frente.
Poderei
afirmar sem hesitação, este último reajuste fez grande alteração em relação aos
sons de ruído, noto-os mais suaves nas frequências baixas, e em sítios
barulhentos como aconteceu quando na vinda para a Estação Velha de Coimbra ouvi
uma conversa sincronizada de três adolescentes no interior do autocarro onde
estava assentada atrás junto da janela, e o motor mesmo debaixo dos meus pés.
Já na estação com o bilhete à mão, o altifalante rompeu o espalhafato de vozes
estrangeiras com o aroma inglês, francês e alemão, bem como outras línguas
irrequietas. Turistas! Centenas deles que pernoitaram na cidade logo após o
concerto da Mandonna no estádio da Briosa.
E
é então que apanho a frase quase toda do altifalante, inteirinha: “Senhores
passageiros o comboio Intercidades que procedente de Porto Campanhã para Santa
Apolónia… na linha dois “ e quantos
tantos Regionais atravessavam noutra faixa. E ter passado a viagem a escutar
duas vozes cúmplices de um rapaz mais a mãe sobre um filme de desenhos animados
a decorrer no portátil atrás de mim!
Ao telemóvel é uma beleza reviver estas
pequenas conquistas, conversas mais duradouras e novas palavras decifradas… e
esta viagem valeu a pena, muito! Para finalizar a minha descrição um pouco
emotiva faz hoje 5 anos que recebi a bendita chamada de Coimbra para o internamento,
por isso para mim, festejo duplamente este dia!
Prestes a completar quase-cincos-anos-de-implantada
continuo a receber surpresas agradáveis de conquistas sonoras.
Hoje
sou Baby! As estrelas sonoras inundam o meu coração com o mesmo fulgor e
intensidade de sempre.